Em seu primeiro romance Téa Obreth nos entrega uma obra singular, cheia de nuances. o livro tem cheiro e gosto de memórias familiares, onde a diferença cultural não se torna uma barreira.
Os fortes aspectos familiares ficam evidentes logo nos primeiro momentos com a descoberta da morte do avô médico, enquanto ela, também médica, está partindo para o outro lado da fronteira de seu país, junto com Zora sua melhor amiga e advinhem... médica, vacinar crianças em um orfanato. A guerra que durou muitos anos havia acabado e agora existia forte fiscalização nas fronteiras, não fica explicito qual guerra, mas creio que foi a Segunda Guerra Mundial e o local onde a história se passa fica entre Yoguslávia e Sérvia.
Começando por memórias da sua infância e idas freqüentes e ritualizadas com o avô, Dr. Leandro, ao zoológico da cidade e o fascínio dele por “O Livro da Selva” de Rudyard Kipling a história vai se desenrolando a partir de memórias afetivas, num primeiro momento relatos da relação da Natalie com seu avô, da adolescência complicada com o temor da guerra que parece estar a perto e longe ao mesmo tempo até entrada na faculdade de medicina e sobre as dificuldades de conseguir cursar na época da guerra. Aos poucos a história começa a ganhar ramificações e lembranças de histórias da juventude de seu avô contadas por ele e o passado de Natalie vai desaparecendo, ficando apenas um pouco do presente que também é cercado de mistérios pelas condições da morte do avô e pela vila onde elas se hospedam, onde as crenças populares são muito presentes. A dificuldade maior está em convencer as pessoas a deixar de lado suas crenças e confiar na medicina. Enquanto isso chegamos a infância do avô de Natalie e todas as histórias que ele viveu, tudo o que ele soube das lendas de Galina, a vila distante onde morava e que ficou perdida na neve durante um inverno assombrada por um tigre.
Em meio a notícias da guerra, bombardeios e minas terrestres temos uma história consistente, com personagens bem construídos que fazem parte de toda a busca da protagonista pela causa da morte do avô. Apesar do tom sobrenatural de todas as lendas o livro traz uma dose forte de humanidade, da dificuldade dos médicos em lidar com a morte, dos resquícios do Império Otomano na cultura local e das pequenas coisas cotidianas que nos damos conta apenas depois da morte de um ente querido. Assista ao vídeo para saber mais sobre essa história emocionante:
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